O Românico

As formas de construir resultam de diversas situações que acontecem em determinadas épocas da nossa História!

 

Na Europa, acontecem dois fenómenos importantes para a compreensão da arquitetura românica: o monaquismo e o culto das relíquias. Por monaquismo entende-se a opção religiosa de viver isolado como no caso dos monges ou monjas! Quanto às relíquias elas surgem como uma forma de devoção a santos que nelas se encontram representados. Estes elementos foram muito importantes para a troca e partilha de conhecimento, transformando-se em alavancas da criação artística!

 

A fundação do Mosteiro de Cluny, na Borgonha - França, no ano de 910, marca um ponto de viragem na história do monaquismo. O poder deste Mosteiro contribuiu para os elementos que se entendem por arte românica. Em pouco tempo os cluniacenses tornaram-se nos mais importantes monges, influenciando mais de mil mosteiros que seguiram a sua forma de organização (regra). Foi o fator religioso que contribuiu para a difusão dos elementos que permitem definir o conceito de românico, embora também existam construções civis e militares, de grande importância no desenvolvimento da arquitetura românica.

 

O sistema construtivo que caracteriza a arquitetura românica começa a ser definido pouco antes dos meados do século XI. É nas regiões da Borgonha, do Languedoc, do Auvergne e do sudoeste francês e nos reinos peninsulares de Navarra e de Castela, que reside a verdadeira originalidade da criação artística nesta época da Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XV! A arte românica surgiu num momento em que a Europa ocidental se unificava religiosamente. Graças à reforma impulsionada pelo Papa Gregório VII, adotou-se o mesmo ritual religioso em todo o mundo católico a partir de finais do século XI. Também nesta altura a grande abadia de Cluny, em França, preparava uma estratégia de expansão dos seus mosteiros e da sua regra monástica.



 

 

O ROMÂNICO EM PORTUGAL
 
Na Península Ibérica, os primeiros monges de Cluny começaram a chegar ainda antes de existir o Condado Portucalense, ou seja, ainda na segunda metade do século XI!

 

A Península Ibérica viu chegar de França muitos religiosos que ocuparam os principais cargos religiosos, como abades e bispos. A formação de Portugal está implicitamente ligada à união entre política e religião. Por exemplo o próprio conde D. Henrique, a quem D. Afonso VI de Leão e Castela entregou o Condado Portucalense, em 1096 era francês.

 

D. Afonso Henriques seguiu também esta estratégia, ou seja, aliou-se a várias figuras importantes da Igreja para afirmar Portugal como um reino Independente. O românico surge ao longo da segunda metade do século XI e do início do século XII, que data de uma série de transformações que irá permitir o aparecimento e a expansão deste estilo arquitetónico, identificando-se como a forma de construir artística que acompanha a fundação do reino de Portugal!

 

É importante compreender que na transição para o século XII eram poucas as construções novas e monumentais que existiam. À exceção de alguns castelos no norte do País e em redor de Coimbra, não estava construída nenhuma das grandes catedrais e os primeiros mosteiros começavam a ser edificados. No Território do Tâmega e Sousa, sabe-se que terá sido o Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa (Penafiel), um dos primeiros mosteiros a ser construído, ainda nos finais do século XI!

 

 

OS LUGARES E OS ARTISTAS DA ÉPOCA MEDIEVAL

 

O artista românico é um homem especializado, formado por outros artesãos em estaleiros de mosteiros, catedrais, castelos ou igrejas. Sabe-se ainda pouco sobre estes homens que inventaram uma nova arte e a expandiram para toda a Europa. É de crer que o ofício passasse de pais para filhos, de tios para sobrinhos, pois não eram vistos como verdadeiros artistas, mas sim como oficiais mecânicos. Só mais tarde, já no Renascimento, é que os artífices começaram a ganhar um estatuto social diferente e a serem reconhecidos como tal.


Após um período de aprendizagem, na equipa de um mestre, alguns aprendizes ganhavam autonomia e partiam para outras paragens, em busca de trabalho. Normalmente, viajavam com as suas famílias, não livres de todos os perigos que os caminhos daquela altura escondiam. Em pequenos grupos de pedreiros, trabalhavam onde houvesse uma construção a fazer. A divisão de tarefas, no caso dos pedreiros, era simples. Havia um mestre de obras, a quem competia a supervisão da empreitada e, não raras vezes, o assentamento das pedras, utilizando o nível para verificar a exata altura das fiadas. Os restantes eram canteiros que apare-lhavam a pedra e muitas vezes recebiam consoante o número de silhares que haviam afeiçoado. É por isso que em algumas obras portuguesas do século XIII os blocos de pedra começam a aparecer com siglas ou marcas, sinal do canteiro que os aparelhou e que por esse trabalho receberia o salário no fim do dia.


Quanto aos escultores (mais conhecidos por canteiros ou mestres de imagens), a especialização do trabalho era maior. Normalmente, um ou dois escultores viajavam integrados numa oficina de vários canteiros. Não raras vezes, escultores formados em distintos estaleiros coincidiram numa obra, como foi o caso da Igreja do Mosteiro de São Pedro de Ferreira (Paços de Ferreira), em que se identificaram três escultores diferentes. A construção de uma igreja românica era um processo moroso, que normalmente durava várias gerações.

 

A escolha do local privilegiava anteriores sítios sagrados (onde a tradição ou os vestígios materiais indicavam ter existido um templo), embora também haja casos de escolha de locais sobranceiros ao povoado mais próximo, com terreno suficiente para definir um adro, um cemitério e um novo centro dentro da aldeia. Os grupos de pedreiros e canteiros eram incorporados em determinada fase da obra, mas raramente a terminavam.

 

A construção iniciava-se pela cabeceira. Quando esta estava concluída, podia sagrar-se o altar-mor e começar a celebrar as cerimónias religiosas. Muitas vezes, decorriam anos até se avançar para a obra das naves, e mais anos ainda até se terminar a construção, cuja última peça era o portal principal (ou ocidental). No caso dos mosteiros, seguia-se para o claustro e para as dependências anexas, o que facilmente faria com que uma construção demorasse 50, 80 ou 100 anos a ser realizada.